sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ciumentos

Ontem estava lambendo os dois. Abraçados, na cama, eu enchia um de beijinhos, depois o outro. Lucas está aprendendo a dar beijos melhor, o que antes era uma boca aberta e uma língua de fora está se tornando um beijinho, mesmo, às vezes até estalado.

E Clara estava com ciúmes.

- Lucas, dá um beijo em mim!

- Lucas, você já beijou a mamãe, quero um beijo pra mim!

- Lucas, me dá um beijo...!

E ele, como toda criança perseguida e procurada, fazendo charme. Sorria e fechava os olhos, pesados de sono, depois virava e me beijava mais uma vez. Não aguentei:

- Ih, acho que tem gente que vai ter muuuito ciúme quando o irmãozinho começar a namorar...!

Ela sorriu:

- Ele vai crescer e eu também e nós vamos namorar!

É tanta inocência. Namorar pra ela é estar junto. É cuidar. Gostar. Eu só esclareci:

- Olha, filha, vocês vão crescer e namorar outras pessoas... Irmãos vocês serão pra sempre...

E então, o encanto se quebrou. Os olhos dela marejaram:

- Ele vai namorar outra pessoa?

- Vai, se quiser namorar. E você também, se for a sua escolha.

- Mas aí, ele vai casar com ela?

Agora a voz já foi ficando embargada, meio chorosa. Respondi:

- Se eles resolverem se casar, sim.

- E vão morar em outra casa?

- Não sei, filha. Tantas coisas pra acontecer. Tanto tempo... Uma coisa de cada vez.

Agora era choro, e de verdade:

- Eu não quero! Eu não quero que o Lucas case e vá morar em outra casa! Você fala pra ele, se ele crescer e casar, que ele tem que morar nessa casa, todo mundo, quero todo mundo junto...!

Acalmei a Clara.

Falei pra ela que não tem pressa, cada coisa a seu tempo.

Lembrei a ela de todas as pessoas que nós amamos e que não moram conosco, e que mesmo assim são muito, muito próximas de nós.

Ela aos poucos foi se desligando disso e continuou reclamando beijos. Ganhou alguns. Dormiram grudados, os irmãos.

E eu derreti, um pouquinho, no meio de tanto amor.


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