Ontem estava lambendo os dois. Abraçados, na cama, eu enchia um de beijinhos, depois o outro. Lucas está aprendendo a dar beijos melhor, o que antes era uma boca aberta e uma língua de fora está se tornando um beijinho, mesmo, às vezes até estalado.
E Clara estava com ciúmes.
- Lucas, dá um beijo em mim!
- Lucas, você já beijou a mamãe, quero um beijo pra mim!
- Lucas, me dá um beijo...!
E ele, como toda criança perseguida e procurada, fazendo charme. Sorria e fechava os olhos, pesados de sono, depois virava e me beijava mais uma vez. Não aguentei:
- Ih, acho que tem gente que vai ter muuuito ciúme quando o irmãozinho começar a namorar...!
Ela sorriu:
- Ele vai crescer e eu também e nós vamos namorar!
É tanta inocência. Namorar pra ela é estar junto. É cuidar. Gostar. Eu só esclareci:
- Olha, filha, vocês vão crescer e namorar outras pessoas... Irmãos vocês serão pra sempre...
E então, o encanto se quebrou. Os olhos dela marejaram:
- Ele vai namorar outra pessoa?
- Vai, se quiser namorar. E você também, se for a sua escolha.
- Mas aí, ele vai casar com ela?
Agora a voz já foi ficando embargada, meio chorosa. Respondi:
- Se eles resolverem se casar, sim.
- E vão morar em outra casa?
- Não sei, filha. Tantas coisas pra acontecer. Tanto tempo... Uma coisa de cada vez.
Agora era choro, e de verdade:
- Eu não quero! Eu não quero que o Lucas case e vá morar em outra casa! Você fala pra ele, se ele crescer e casar, que ele tem que morar nessa casa, todo mundo, quero todo mundo junto...!
Acalmei a Clara.
Falei pra ela que não tem pressa, cada coisa a seu tempo.
Lembrei a ela de todas as pessoas que nós amamos e que não moram conosco, e que mesmo assim são muito, muito próximas de nós.
Ela aos poucos foi se desligando disso e continuou reclamando beijos. Ganhou alguns. Dormiram grudados, os irmãos.
E eu derreti, um pouquinho, no meio de tanto amor.
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