segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobre seguir

Post desabafo da Ana-eu. Não espere gracinhas das crianças - em breve retomaremos nossa programação normal.


Ano novo. Gosto de ano novo, sou uma pessoa de ciclos. Gosto dessas viradas. De recomeços e novas chances, de arquivar memórias boas e aprender com as não tão boas. Sou assim bem simplista. Sei que hoje é o mesmo que semana passada, que a rigor nada mudou - mas eu ganhei a oportunidade de me enxergar diferente, simplesmente porque troquei de agenda e calendário. E vamos nós.

E me enxergando, vi coisas que eu há tempos evitava ver. Mas é preciso.

Quando eu era pequena, eu queria fazer parte. É meio genérico e quase ridículo, mas acho que era isso que eu queria. Como filha única, com dois primos mais velhos - ou seja, eu era a caçula bobinha..rs... (e acho que sempre serei, aliás), sem amigos, sem brincar com as crianças na rua, eu me sentia muito só. Tinha companhias esporádicas, mais frequente a companhia dos meus primos, e lá no fundo a vontade de fazer parte.

Via meus colegas passando a tarde no shopping, fazendo noite do pijama, aniversário na piscina na casa de fulana. Comigo era mais ou menos assim: se eu chamava e oferecia alguma coisa de bom (piscina, por exemplo), até apareciam umas duas ou três meninas. Se alguém chamava, às vezes de verdade e às vezes por educação, minha mãe não deixava. E fui crescendo. Mas esse sentimento... O sentimento do pária me acompanhou muito tempo. Hoje eu acho até bonito ser esquisita, mas nem sempre foi assim. E a esse sentimento de solidão associei uma dor na boca do estômago que parece até fome, me sobe um engasgo até a garganta, e o coração acelera um cadinho: a minha condição fisiológica de estar triste.

A vida me trouxe muitas coisas. Crescer, para mim, foi muito bom. Não sabia ser criança e não aprendi muito bem. Mas crescendo, achei que alma e corpo se ajustaram no mesmo número. Chegaram amigos. Comecei a fazer parte. Descobri que ok ser eu - era só eu que tinha, mesmo, pra ser -, e que a felicidade é diferente dos comerciais e das histórias que eu leio. A minha felicidade é uma história inédita, que eu tenho que escrever antes de ler, e com muito mais complexidade do que se poderia supor. E tudo bem.

Mas às vezes, no meio das coisas todas, alguma chave muda. Em algum momento, você vê que, não sabe muito bem porque, as pessoas não te veem mais como costumavam te ver, nem você a elas, nem você a você mesmo, e é tudo parte desta história. Não é nada de propósito, premeditado... são as construções dessa teia. Acontece. E mesmo seu melhor não é o suficiente. E você percebe que ninguém está aceitando o seu melhor - o seu melhor é pouco, mas olha, era o prato do dia. Como ser eu é só ser eu, mesmo a gente sempre tentando melhor, no final só nós somos sempre iguais a nós próprios - e, muito ou pouco, somos nossa própria companhia. Mas, enfim, alguma coisa muda. Permanentemente. E é preciso seguir.

Só que, sabe, dói um pouquinho. Porque, no processo, você se vê distante de gente que importou muito - ou ainda importa, mas vamos manter o passado para nos convencer de que tudo bem. Você se vê sendo menos para quem é/foi muito pra você.

Quando percebi, já estava com dor de estômago. Ou será que é fome? Veio um negócio até a gargante e eu pensei...meu coração está batendo tão depressa. Que seja, mas me recuso a ficar triste. Porque tenho muitos mais motivos para a felicidade do que para a tristeza, não vou me esquecer. E Pessoa me ensinou, para nunca abandonar o ensinamento... "Somos quem somos. E quem fomos foi coisa vista por dentro".




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