quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A lista de materiais e o frio na espinha

Sou nova nesse universo, ainda estou aprendendo a caminhar nele.

Fiz compras de listas de materiais escolares. Milhares de vezes. Pra mim. Adorava e até hoje, sejamos honestos, a nerd em mim se realizada passeando em papelaria.

Mas agora são outros quinhentos. Agora é a lista de materiais da Ana. E eu estou envolvida de tantos modos nela. Economicamente. Emocionalmente - quer coisa melhor que ver seu filho feliz com um jogo de canetinhas? É altamente viciante, tão bom que é. Mas tem o envolvimento do meu lado engajado. O meu lado mãe que boicota a propaganda infantil. Que dá uma zoada na Barbie só pra ela não virar "tudo isso" no imaginário da minha criança. Que encana com os desenhos, as histórias dos livros, que tenta com todas as forças ensinar a pequena a questionar TUDO. Esse lado, fazendo compra de materiais escolares, sofre muito.

Giz de cera com princesas esculpidas na ponta. Apontador com orelhas da Minnie. Sem falar a organização das prateleiras - "estojos para menina", "estojos para menino". E eu nunca soube que homens e mulheres tinham uma ergonomia tão diversa que até bolsinha com ziper precisa de ser pensada exclusivamente pra cada sexo! Tá tudo tão errado, que eu comecei a achar que devia ter ido fazer essas compras sozinha.

Mas não devia. Teria perdido a oportunidade de ver a Ana Clara me mostrar coisas sem pedir, de vez em quando pedir e devolver no lugar diante do meu não, e dizer coisas como "você não vai comprar estojo, né? O meu estojo eu gosto muito!" - Time da Casa, um; Consumismo, ZERO.

Quando mostrei os cadernos, fiz o meu melhor pra driblar o sexismo inerente. Mostrei os dois únicos de estampa neutra. E mostrei todos os outros misturados. Moranguinho, Batman, Princesa, Avengers, Frozen, Carros. Ela escolheu um - Frozen, mas o caderno é VERDE! Viva... - e fomos andando. O dos Minions foi o escolhido do ano passado, e tanto no ano passado como ontem estava na pilha dos "cadernos de menino". Perguntei a ela:

- E o dos Minions? Por que não ele?

- Porque eu já tive um dos Minions. Esse ano eu quero um diferente.

Respirei aliviada. Ela não disse "porque é de menino". Ela não disse!

São tantos questionamentos que me perpassam. O sexismo, o consumismo. A aceitação. Tenho lápis de cor meus que dariam bem pra ela aproveitar, mas será que ela será julgada se aparecer com uma caixa velhinha no lugar de um jogo novinho de 24 cores? Mas ceder a essa pressão é fazer de mim uma mãe vendida? E o consumismo e tudo que eu penso dele? Não devia comprar coisas de personagem, sou contra isso. Mas não tem nada que não seja de personagem, meu Deus!

Aos poucos vou percebendo que, por mais que eu tente educar Ana e Lucas para que eles ajudem nessa transformação de mundo, pra que eles arregacem as mangas e me ajudem a fazer desse um lugar melhor, muito melhor... O lugar é este mesmo, por enquanto. Resta fornecer a eles as ferramentas para subverter. Para transformar.

Na fila do caixa, ela me fez um pedido:

- Sabe, você manda fazer uns adesivos? Das Winx. Vou colar em tudo!


Não deixam de ser personagens, mas: isso mesmo, Ana Clara! Não aceite o que o mundo te dá e só. Queira mais. Peça adesivos e cole. Encontre a sua maneira de ser você, mesmo quando tentam não te dar espaço.

Eu achei que não levar as crianças me faria economizar no processo de compra da lista de materiais.
Mas levá-las me fez sair no lucro.


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