terça-feira, 16 de junho de 2015

Das coisas que se sabe que não se sabe

Quando eu decidi ter um filho - e aqui é "eu", mesmo, porque eu decidi muito nova, comigo mesma, que teria um filho (sem saber quando, sem saber se teria pai, sem saber se seria de outra barriga, sem saber nada disso) -, eu não passei um átimo de segundo na questão "mas e meu corpo, que será que vai acontecer?". Eu passei horas na questão, "mas e minha cabeça, o que será que vai acontecer?".

Anos mais tarde, quando a decisão foi minha e do Rafa, por um filho naquela hora ou dali a nove meses, com pai e da minha própria barriga, essa questão voltou a me assombrar e mais completa: e do meu coração? O que será?

Eu não sabia, mas já tinha uma boa dose de desconfiança, que filhos nos mudam no nosso íntimo. Eu sabia, como já disse, que um filho viria para me mostrar que eu não sei o que penso que sei, e que talvez até saiba aquilo que nunca imaginei ou pensei que já tivesse esquecido. Sabia que um filho romperia com as minhas poucas verdades, como eu já disse tantas vezes, e por mais que estivesse pronta para abrir mão de tudo ou qualquer coisa, eu não sabia o que isso faria de mim.

E ter um filho... Que amor sem limites. Ter dois, você pega o limite que já não tem para amar e estica até dobrar no infinito. Você quer que um durma para poder dar atenção para o que está amuadinho, depois dormem os dois e bate a culpa: só porque ele não está amuadinho, não significa que não precisa de atenção... Você põe os dois no colo e brinca um pouco, pensando, "são tão pequenos, precisava de ter dois colos"...

Clara, nos últimos dias, me levou a duas situações que eu não imaginava. Me arrastou, literalmente, atrás de uma procissão. A procissão da minha infância, Corpus Christi. E me pediu, quando chegamos na igreja para a bênção final, "mamãe, vamos vir na missa?".

Fomos à missa. Lá pelas tantas, é óbvio, ela se entendiou como boa criança. Mas eu fiquei pensando... Como meus filhos me trouxeram minha religiosidade de volta - magnificada, mais completa, mais confusa, até, mas muito íntima. Me devolveram a inocência de fechar os olhos e pedir com o coração. Quando eu era pequena, pedia um irmão adotado, um cachorro ou um gato, um amigo. Hoje eu peço pelos que eu amo, "olha por eles". E peço num sopro, "acalma meu coração"...

Quantas vezes eu pedi isso aos céus. Que acalmassem meu coração. Pedi ao céu na forma de Deus, Jesus, aos santos quase todos, mais vezes aqueles que me parecem mais "chegados", a minha mãe, avó, tia-avó... E tantas vezes eles me ouviram. Porque esta era a minha maior certeza e foi também a minha maior surpresa, o que ser mãe foi capaz de fazer a minha cabeça e ao meu coração, a minha alma inteira.

E eu o faria de novo. Pensando na poesia, acho que ele estava errado. O melhor dos filhos é tê-los. Se você estiver disposto. Se você estiver desperto. Se for capaz de semear o bem e o amor sabendo que não é você quem vai colhê-los, mas os seus pequeninos.


Tem aquela música, e meu pego pensando.
Ah, só eu sei quanto amor eu guardei. Sem saber que era só pra você...
Mas "você", aqui em casa, é mais de um.

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