sexta-feira, 19 de junho de 2015

A menina dos cachos dourados conhece o menino de cabelos vermelhos

Acho que se um dia eu fosse escrever a história de quando Lucas chegou na vida da Clara, esse seria o nome. "A menina dos cachos dourados conhece o menino de cabelos vermelhos". Ou "cabelos de fogo", talvez tivesse mais vendagem e atraísse mais a curiosidade das crianças.

Não tenho irmãos - pelo menos não no trato diário. Tenho meio-irmãos, que conheço virtualmente, e que descobri tardiamente. Não tive nada dessa vivência louca de ter alguém dentro da sua casa o tempo todo, invadindo o seu espaço, dividindo suas coisas, a atenção dos pais. E que barato é observar isso. Observar a Clara se adequar a mais um - esses dias, queixosa, me disse que "queria uma criança só!", com o dedinho em riste, para segundos depois se debruçar sobre o carrinho - beijar, abraçar, brincar com o irmão. Observar o fascínio do Lucas por este ser satélite da sua gestação e nascimento - sempre ali, sempre perto, sempre a voz dela, aquele toque, e o olhar, e as brincadeiras.

Eu os vejo amarem um ao outro sem saberem direito o que é amar. Sem se preocuparem com isso, também, porque é inato, natural e sem propósito. Puro.

Ele sarando da gripe, ela mexendo com ele.

- "Vamos dormir, Luquitas!".

E estende a fraldinha fechando o carrinho. Ele gargalha. Gargalha. Nós, os adultos, passamos minutos a fio no "brrrr", "cadê", cosquinha, o que for, para ganhar um sorriso de soslaio. Ela assopra, ela gira, ela faz um salto de ballet, ela canta um pedaço de uma música que não existe - e ele se desmancha.

Assistindo à cena, perplexos, nós nos desmanchamos em seguida.

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