segunda-feira, 27 de abril de 2015

A dúvida eternizada pelo The Clash

Sempre saímos com a Clara. Não madrugada a dentro, mas tantas vezes curtimos o Happy Hour com ela, até na sinuca. Mas então surgiu (mais) uma pedra no caminho da minha maternagem: o bar/restaurante/pizzaria que quer entreter.

Essa é uma dúvida gigantesca que eu tenho. Quero ir a estes lugares com piscina de bolinhas, parquinho ou até papel de desenhar?

Não sei, mas me parece que a criança é um fardo. Você chega, senta e cinco SEGUNDOS depois, se materializa o garçom com o desenho (sexista, obviamente, por que não?) e lápis de cor com o grafite quebrado ou giz de cera ressecado e dividido cada um em cinco partes. Parece que estão me dizendo "mais fácil pra senhora e pra nós, vamos conter seu pequeno gremlin, combinado?". Eu nunca disse "não, obrigada, pode levar". Mas me recriminei por não ter dito, às vezes até pra não tirar isso da Ana - ela já viu, já quis, tantas vezes a oferta é feita diretamente a ela, peso rapidamente os prós e contras de interferir e boicotar e, temendo estragar a noite de todos, finjo que ok. Mas sinto que não devia.

Não quero sair "apesar da Clara " - e agora do Lucas, também. Quero sair COM eles.

Na minha casa nunca houve "a mesa das crianças", eu almocei e jantei com todo tipo de visita - mais crianças, meus tios, os amigos da igreja da minha avó, o Padre... Também não me deram lápis de cor, nem tablet, nem nada. E pra mim não era maçante - era legal! O Padre tinha uma cabeça bem bacana e um dia eu perguntei, à sugestão do tio que conhecia minha dúvida, porque o Natal não era 01 de janeiro se o nosso calendário é cristão e se inicia no nascimento de Cristo. E ele respondeu, e nós conversamos, e eu aprendi que isso também é entretenimento e é muito bom...

Se há parquinhos, se há Discovery Kids, brinquedoteca, as crianças simplesmente se ausentam de suas mesas e lá se vai a minha Claraboia com elas. Nem precisa sair. Às vezes isso acontece em casa. Eu mesma sou a vilã - vem cá, vou colocar o netflix pra você... Quando escrevi "netflix" o corretor substituiu por "negligência", e foi assim mesmo que eu me senti: negligente.

Sei que nós somos humanos e isso é normal. É normal querer cinco minutos entre adultos, sem ter que driblar uma birra, sem vigiar os perfuro-cortantes sobre a mesa. Mas algo me diz que isso deveria ser exceção e não regra. Estar com nossos filhos e olhar para eles deveria ser a regra, independentemente do lugar - ouví-los, prestigiá-los, ensiná-los o pouco que se sabe de socialização, compartir.

Meu final de semana foi muito diferente do que eu estou dizendo aqui. Clara mais reclusa, eu tentando respeitar o seu desejo de reclusão e ao mesmo tempo me culpando por ter liberado o Netflix antes das visitas chegarem. Ao mesmo tempo, curtindo poder me abrir sobre o que acontece com ela com gente que eu amo e que me faz bem, que me ajuda a pensar e decidir. Mas aí chegou no WhatsApp um áudio lá do Rio de Janeiro que me fez ponderar tudo... Me fez encarar um pouco a pessoa em que me transformei depois de todos esses quilos e dessas duas preciosidades que vieram do meu ventre. E não há nada que eu queira mais do que estar com eles... Por eles, para eles, mas principalmente por mim. Como me faz bem estar com eles. E acho que preciso reconsiderar até isso, meu jeito de sair com eles, seguir meus instintos - nem que seja selecionando melhor os lugares. Envolvê-los mais e sempre.

Acho que a maternidade será sempre assim. Cheia de dúvidas, tentativas, acertos, erros. Lá no fundo eu me perguntando, silenciosamente, à frente de cada decisão - should I stay or should I go, now?

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