segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Cada dia, mais difícil

Quando ela era pequena, era muito simples. Eu ia até o berço, chamava, ela abria os olhos já sorrindo. Tantas vezes sorri antes de abrir os olhos, é assim a minha Ana. Eu colocava no peito, ela mamava, dormia sorrindo também. E eu vinha trabalhar, dilacerada, enquanto ela ressonava tranquila ao lado do pai.

Depois veio o tempo em que ela já não voltava mais a dormir. No colo do pai, me dava tchauzinho. Sorrindo. E eu saindo da garagem, chorando.

Mais uma guinada, ela continuava dormindo. Eu ia sorrateira até o berço, um beijo, um cafuné, "Deus te abençoe" e "mamãe te ama" - o sono dos justos. E mais um dia na estrada.

E agora... ah, agora. Agora é que a coisa ficou difícil de verdade.

Quando o filho nasce, a gente se acostuma que o negócio não vai ser fácil e vai ter muita lágrima envolvida. Muita culpa. Muita saudade. Mas se é na gente, ok, fizemos inscrição nisso aí. Não lemos nas letrinhas miúdas, mas tava junto - "ser pai e mãe, vem junto: horas sem dormir, culpa máxima, chorar com motivo ou sem". Mas se é neles...

E agora eu me pego nesse dilema. Todas as noites.

- Mamãe, você não vai trabalhar nunca. Eu não quero que você vá trabalhar nunca mais. Você vai ficar comigo.

E ontem, no ápice do domingo à noite, na voz de choro:

- Por que, por que você vai trabalhar? Eu vou ficar muito triste. Eu vou ficar brava com você. Eu não quero que você vá trabalhar, porque quero que você fique comigo!

Meu estômago deu um nó. De ver que, quando estamos juntas, ela está pensando no mesmo que eu - em quando não estamos, em como isso faz falta, em porque não pode ser sempre assim. Calei todas as vezes que o assunto veio à tona. Ela me pergunta "por quê? por quê?". Ontem ela me perguntou se era porque a gente precisa de "tutu". Como responder a isso? Como dizer a ela que eu trabalho para que tenhamos a nossa vida, sabendo que, em parte, o trabalho também nos toma uma parte desta mesma vida?

Dormimos abraçadas, depois do chorinho sentido dela.

Hoje cedo, ela estava dormindo quando eu saí. Dei um beijo no rosto, acertei as cobertas."Deus te abençoe, flor. A mamãe te ama". Muito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário