segunda-feira, 21 de julho de 2014

O incrível "importar-se"

Quando eu fico brava com a Ana - e danados hormônios da gravidez, que ultimamente eu ando muito brava -, uma reação involuntária do meu corpo é franzir o cenho. E eu sei disso, porque a Ana me disse.

Nós conversamos, ou eu dou uma bronca, ou o que seja. Ela se aproxima, estica as mãozinhas para o ponto entre os meus olhos e estica, tentando desfazer a todo custo as rugas ferozes que estão lá:

- Não fica triste, mamãe. Me desculpa.

Como todos nós já achamos um dia, ela também acha que pedir desculpas é o botão "reset". Que vai ficar tudo bem instantaneamente. Mas numa semana difícil, não funciona assim:

- Por que você não está feliz, mamãe? Por quê? Desculpa, mamãe.

E os dedinhos insistentes, esticando meus supercílios, tentando desfazer aquela cara de "mãe brava" que ela detesta.

A Ana Clara se importa. Ela está naquela idade mágica em que a mãe triste é um problema que afeta todo o mundo dela, e quando ela é responsável por isso, a culpa é avassaladora. E, quando não é responsável por isso, me corta mais ainda o coração...

Nós estávamos numa missa. Não frequento à missa sempre, mas tenho cá minha religiosidade. E estava passando um pedaço tão complicado que, quando comunguei, conversando com Deus, as lágrimas rolaram pelo meu rosto. Eram em parte um desabafo, eram muito um agradecimento. Porque tudo tinha passado - mas tinha passado, e eu tinha ao meu lado (e dentro de mim) as minhas maiores riquezas.

- Mamãe, não chora! Mamãe, vai ficar tudo bem, mamãe. Não precisa chorar!

Ela me abraçou, me beijou. A voz embargada.

- Papai, a mamãe tá chorando! - algo como, "como fazemos isso parar, agora?" - Não chora, mamãe, eu te amo.

Quando eu sorri, ela sorriu junto, ficou na dúvida:

- Se você está feliz, por que você está chorando?

Com tempo, a Ana vai entender como conseguimos estar felizes e chorando ao mesmo tempo, e como ter ela do meu lado naquele instante fez a cota de choro de agradecimento ser muito maior do que o choro de desabafo. Por hoje, quem precisa entender sou eu. Que tudo, no seu cerne, é simples. Simples e grandioso. Como o amor puro dessa minha criança...

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