quarta-feira, 2 de julho de 2014

O Drama Escolar

Eu sempre bradei aí aos quatro cantos que respeitaria o tempo da Clara. Essa sempre foi, no fundo, a minha meta mais séria. Não pode gritar, não pode deixar tudo, mas o que mais não pode, sob nenhuma circunstância, é ignorar o tempo da minha filha em prol do meu tempo.

Como era de se esperar, com uma premissa dessas, estou prestes a levar uma rasteira.

Eu acho que Ana Clara quer ir para a escola. Ela fala, ela mostra, ela pergunta, ela junta as coisinhas dela e põe numa mochila. Ela quer mais crianças, ela quer muitas coisas. E eu acho, sendo mais honesta comigo do que estou pronta para ser, que Clara está pronta para ir à escola.

Ela saiu da fralda, ela quase consegue se virar sozinha no banheiro, ela está se comunicando.

E eu estou em frangalhos, porque não estou certa se quero que Clara vá para a escola.

Me falta aquela coisa que sobra nos pais: "porque fulano, foi com tal idade para a escola, e já conta até tanto, e já fala tal língua, e tem amiguinhos, e a escola foi ótima..." e blá, blá, blá. E todo aquele papo de independência e tal.

Bom, vamos por partes.

Você consegue ensinar macacos a contar. Sério. Isso não é grande vantagem.

Se eles vocalizassem, talvez fosse capaz de ensinar as cores em inglês.

O drama é como isso é feito. Estamos criando pessoas robóticas. As escolas tem como meta o vestibular. O vestibular! A que ponto chegamos, é ridículo. Não precisa preparar pra vida, não precisa ensinar raciocínio, não precisa despertar questionamento: passou no vestibular, tá beleza. Eu tenho vontade de chorar. Quando foi que uma prova passou a ter mais importância que todo o resto? Que a vida inteira?

E as crianças das escolas... Meu Deus. Como eu sofri com os colegas da escola. Sim, chega uma hora em que a loteria se prova e você conhece alguém que faz tudo valer a pena. Mas das centenas de colegas que eu tive, não tive 10 que me fizeram ter prazer de encontrar durante as aulas. Crianças mesquinhas, mimadas, materialistas, obcecadas com imagem e com status, quantas dessas cruzaram o meu caminho e nós nos odiamos mutuamente?

Não me acho perfeita. Só acho que a escola está um tanto distante dos meus valores mais sérios. E aí dá um medo profundo enfiar a Clara nesse lugar - no lugar em que eu fui feliz e infeliz, em que aprendi tanto e aprendi coisas que nunca deveria ter aprendido, como o fato de que as pessoas não são confiáveis e de que por trás de tudo que se lê numa lousa há um princípio coercitivo.

Não sei se estou pronta. Estou sofrendo por antecipação. E quanto mais eu converso com outros pais, orientadores pedagógicos, professores, mais eu sofro. Não deveria ser o contrário? Eu achava que isso aumentaria minha segurança, minha confiança, mas o que essas pessoas me dizem, o que elas usam como valor...

Numa entrevista em uma escola, perguntei a orientadora sobre método. E ela me disse "usamos o livro de tal empresa-didática-que-eu-deveria-achar-o-máximo-só-que-não". Ah. Ok, então. E o método? Dá-lhe um nó na língua e, no final das contas, é isso mesmo - as crianças sentam, os professores falam, e haja princípio cristão passando por baixo da porta. Como boa cristã, fiz o sinal da cruz pra me proteger desse lugar, e risquei na listinha.

Não posso proteger a Clara do mundo. Mas quero a Clara madura para encarar o mundo - para não fingir que gosta das Chiquititas só pra enturmar, ou que não gosta a partir de uma certa idade pelo mesmo motivo. Quero que ela seja tão estranha quanto quiser ser, e tão feliz quanto se permitir.

E que venham os novos desafios. Vamos encarar juntas.

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