segunda-feira, 14 de julho de 2014

Da solidão e outras histórias

Ontem me bateu essa solidão, assim, que nada resolve. Eu estava sozinha com a Ana, mas não era solidão de companhia. É uma solidão que eu só conheci quando estava grávida da própria Ana, e percebi que nada no mundo poderia curá-la - nem meu marido, nem nenhum amigo, nem minha mãe. Acho que é a solidão de quando a gente se dá conta de que a ampulheta virou, que nosso tempo de filho passou e começou um outro tempo (com muitas mais responsabilidades, com muitas mais coisas sobre os ombros). E você - e você só - tem que encarar.

E então eu a senti, de novo. De mansinho. Essa solidão calada e profunda. E a Ana estava lá.

Eu não tive uma reação. Eu não chorei, nem resmunguei, nem suspirei, nem nada. Eu simplesmente fiquei lá, sentada, olhando pra ela enquanto ela se divertia com o Lego, e me sentindo profundamente só. E então ela levantou o olhar pra mim, aquele olhar que já sorri antes dos lábios acompanharem:

- Mamãe, você tá bem?
- Estou, filha.
- Você quer brincar de Lego comigo?

Pensei no Lucas, na hora. Pensei em como será ter os dois ao meu lado, e como esse laço é tão rico e poderoso.

- Já, já.

Quando ela nasceu, eu sabia que estava ganhando uma filha e uma companheira. Mas como imaginar o que a Ana significaria pra mim? A importância deste olhar, deste mimo. Desta presença.

E olhei pra ela de novo. E a solidão tinha diminuído, um pouquinho.

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